21 de jan. de 2011

Ponte JK e a gestão demotucana


Imagem do desnível na Ponte JK. Site: CorreioWeb
Uma das reclamações dos moradores de São Sebastião, Lago Sul (nas mediações das quadras QI 26/28) e dos condomínios próximos à Ermida Dom Bosco e entorno era a dificuldade de se chegar até esses locais, sem ter que passar, obrigatoriamente, pela Ponte das Garças ou pela Ponte Costa da Silva, que dá acesso ao Pontão do Lago Sul, o "point" dos ricos de Brasília.

O então governador Joaquim Roriz elaborou a proposta de construção de uma ponte que ligaria o Plano Piloto ao Lago Sul, com acesso direto a essas regiões. A Ponte JK - também conhecida como a 3ª ponte - foi concebida pelo arquiteto Alexandre Chan e executado pela Via Engenharia.

Em 15 de Dezembro daquele ano, foi inaugurada a ponte JK, sob diversas polêmicas. Uma delas estava relacionado ao custo orçado para a construção da ponte. Inicialmente avaliada em R$ 40 milhões, ela foi entregue à população com custo final de R$ 160 milhões.

 
Os prêmios e a beleza estética e arquitetônica da ponte trouxeram custos e prejuízo para outras áreas sociais, como saúde e educação.

No Distrito Federal, as duas áreas sofrem anos com o descaso do governo local. Na área da educação, além dos problemas estruturais nas escolas, os professores não sofrem reajuste em seus vencimentos há mais de 10 anos. Na área da saúde, os hospitais públicos estão superlotados, falta médicos e medicamentos, além de estrutura adequada para o atendimento.

Em tempo: Agnelo Queiroz montou uma Comissão para avaliar a crise na Saúde do DF, herança "maldita" dos governos anteriores. A comissão já visitou os Hospitais do Gama, Planaltina e o Hospital Universitário de Brasília - HUB, da UnB.

O retrato da negligência demotucana no Distrito Federal não tardaria a aparecer. Depois de 15 anos sob governos de Joaquim Roriz e três anos sob a gestão Arruda (então no DEM), as falhas estruturais, decorrentes de esquemas pomposos de superfaturamento e corrupção, dariam os seus resultados.

Ontem (20/01), por volta de 12h30, a ponte Juscelino Kubitschek, foi interditada. A interdição da ponte ocorreu após um desnível em uma das fendas da ponte. A dilatação, constatada pelo Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e engenheiros da Universidade de Brasília (UnB) é entre 3 e 4 centímetros de largura.

Veja abaixo a foto lateral, mostrando o desnível da Ponte JK. A foto foi retirada do site do jornal O Globo, que aliás não dedicou uma palavra sobre Roriz e Arruda (mas faz um gancho mirabolante com o presidente Lula):

Imagem lateral do desnível na Ponte JK. Site: O Globo.

Desde 2002, ano em que a Ponte JK, cartão-postal da cidade, foi inaugurda, não houve nenhuma manutenção corretiva e/ou preventiva na ponte. Na página da Administração do Lago Sul na internet, existem elogios e mais elogios à ponte.

O link pode ser acessado clicando aqui. Abaixo, um trecho sobre o material utilizado na construção da ponte:

Para levantar a estrutura muito esforço foi exigido dos mais de mil operários contratados. Não é para menos. Foram utilizados um volume de concreto de 38,9 mil m3, junto a 17 mil toneladas de aço distribuídos em 1.200m de extensão e 24m de largura. Para se ter uma idéia de sua magnitude, a Torre Eiffel, em Paris, possui apenas 12 mil toneladas de aço. A estrutura abrange, ainda, três faixas de rolamento construídas em cada sentido da via; faixa lateral para ciclovia e passeio; e os três grandes arcos monumentais de quase 40m de altura postos entre vãos de 240m cada.

 Na página local da Administração, aparecem também trechos citando os prêmios ganhos pelo arquiteto Alexandre Chan, com o projeto da Ponte JK:

Seu projeto rendeu ao arquiteto Alexandre Chan a medalha Gustav Lindenthal durante a 20ª Conferência Internacional sobre Pontes, na cidade de Pittsburgh (EUA). A partir daí, entre as obras finalizadas em 2002, a Ponte JK foi vista internacionalmente como a ponte de maior valor estético e ambiental do mundo.

Vale lembrar que restam debaixo da Ponte JK restos de concreto e areia, que não foram utilizados ou reaproveitados em sua construção. Professores e geólogos da UnB avaliaram, quatro anos depois da construção, o estado de conservação do Lago Paranoá, em especial a região próxima à ponte. E avaliaram negativamente: a área próxima da ponte está poluída, com grande incidência de metais pesados e outros objetos, remanescentes da construção.

A Ponte JK - assim como o Rodoanel em São Paulo - é o exemplo de como a gestão demotucana no Distrito Federal investiu maciçamente em obras faraônicas, causando, por outro lado, crises em outros setores, que agora Agnelo Queiroz e sua equipe de secretários tenta reverter.

Por parte da mídia local, se faz muito alarde em torno da interdição da ponte, mas não se vê e ouve uma palavra sequer sobre o esquema de corrupção que até hoje envolve a construção da "mais bela ponte do mundo".

O Tribunal de Contas do Distrito Federal já pediu a devolução de R$ 26 milhões aos cofres do Governo do Distrito Federal. Está na hora de Agnelo Queiroz solicitar aos ex-governadores Roriz, Arruda e Rosso esclarecimentos sobre a construção da ponte. E a devolução do dinheiro.

Se não fizer, corre o risco da ponte e da imprensa local (afinada com Roriz e Co.), cair em cima dele.

Eduardo Pessoa

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