4 de mar. de 2011

Novo endereço!

O blog Bagunça das Gavetas vai funcionar em novo endereço. 


O link é mais curto e fácil de memorizar. A bagunça continua a mesma. Desengavetando idéias para um novo mundo.

Eduardo Pessoa

3 de mar. de 2011

Prostituição: vale a pena?

"A violência para uns atrai e fascina, para outros desespero, vontade de fugir..."
(Da Guedes - Tô Cansado)

"Bruna Surfistinha", filme que está em cartaz nos cinemas, não pretende inventar a roda. Nem a prostituição. Mas ela inova na comunicação com os clientes. O uso do blog é uma inovação na relação entre cliente-garota de programa.

O blog vira febre, numa época em que ter blog era para poucas. A blogosfera, como conhecemos hoje, sequer engatinha em 2005. O que se tem são tentativas de comunicação alternativas à grande mídia.

Para se ter uma idéia, os blogs "explodem" em 2004, com jornalistas criticando a gestão do Governo Bush. Ela inicia a idéia de blog em 2005, como meio de divulgar o dia a dia dos seus programas. Analisando o filme, os programas são rentáveis.

Por quê cada vez mais jovens e mulheres recorrem à prostituição?Independência financeira e o ganho rápido e fácil são algumas respostas.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 72,31% das mulheres de 18 a 39 procuraram emprego. No mesmo estudo, 53,63% de trabalhadores inativos na mesma faixa etária, não procuram emprego pois "o salário oferecido é sempre muito baixo".

Analisando a pesquisa do IPEA pelo sexo, 44,10% das mulheres se recusariam a trabalhar por salários baixos. Para as jovens entre 18 e 39 anos, o salário "mínimo" para se trabalhar é de R$ 758,57.

No filme, Bruna sai de casa por conflito com o irmão e por descobrir que é adotada. Ela tem 17 anos, e se aloja em um hotel com mais 4 mulheres, todas prostitutas. Ela submete seu corpo ao sabor dos clientes para ganhar R$ 100,00 (R$ 60,00 da "casa" e R$ 40,00 para ela).

A matemática da prostituição é simples e atraente: uma garota de programa atende em média 5 clientes por dia, cada um pagando R$ 40,00.


5 x R$ 40,00 = R$ 200,00

Imagine o amigo leitor que ela atenda esses mesmos 5 clientes, que dão a ela o lucro de R$ 200,00, durante 1 mês (30 dias).

R$ 200,00 x 30 dias = R$ 6.000,00

Somente cargos altos em empresas e salários de nível superior no Serviço Público estão próximos desse patamar.

Abandonar a vida de garota de programa se torna tarefa árdua. Dinheiro fácil, carros importados e a vida de luxo e glamour se tornam elementos atrativos. Sinal disso é que o mercado do sexo movimenta, por ano, R$ 500 milhões com boates, motéis, artigos de sex shop e casas de massagem. Mas os números, apesar de atraentes, estão incompletos.

O que os números não consideram é que em um universo de 1,5 milhão de garotas de programas no Brasil, somente 8% delas faturam acima de R$ 2.500,00. São chamadas de "garotas de luxo".

A maioria está na rua, vendendo sexo por R$ 10,00 ou R$ 20,00. Em muitos casos, até menos que isso. Vendem o corpo por pouco, para pagar aluguel dos hotéis onde moram e para sustentar o vício com bebida e drogas.

Boa parte das garotas de programa que atuam na rua têm problemas de depressão e estresse. Além disso, sofrem com agressões verbais e físicas dos clientes.

As mulheres da estrada representam a maior parte das garotas de programa. Setenta por cento (70%) tem formação de 1º grau e 50% delas ganham entre R$ 160,00 e R$ 700,00. Um dado bem diferente da matemática "perfeita".

Mas a vida de Bruna Surfistinha não é só de sorte. O padrão de beleza aliado ao status de classe média alta, contribuem para sua ascensão rápida. Prova disso é a compra de uma cobertura no Centro de São Paulo. Tudo com dinheiro da prostituição.

A nova compra lhe rende clientes com maior poder aquisitivo, mais dinheiro e fama. O blog ela usa a seu favor: divulga fotos, conta detalhes e dá "nota" aos seus clientes. Os comentários e pedidos explodem. Bruna Surfistinha se torna um fenômeno de mídia.

Encarar de frente

Apesar de todo o dinheiro e fama, é necessário analisar com cuidado a questão da prostituição. Tida como a profissão mais antiga do mundo, ela penetra lares, ruas e a internet. Destrói famílias, lares e reputações "ilibadas".

Em linhas gerais, trata-se de uma atividade profissional não reconhecida, portanto, ilegal. Ainda assim, movimenta bilhões de dólares e é a terceira atividade ilícita mais lucrativa, perdendo para o tráfico de drogas e a venda ilegal de armas.

Enfraquecer a ilegalidade da prostituição passa não somente por uma rede interligada das polícias, mas por legalizar a profissão, oferecer condições dignas de saúde para as garotas de programa e transpôr a barreira mais difícil do processo: a hipocrisia e exclusão.

Entre as condições, estão os exames períodicos para acompanhamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Passa também por acompanhamento psicológico, pois muitas sofrem com a violência física e psicológica.

As garotas de programa existem. É tolice acreditar na inexistência delas. O Estado deve ser cobrado para que elas tenham acesso à cidadania.

Por outro lado, criar a cultura de desglamourização da prostituição também é salutar. Uma dessas formas é criar um novo marco regulatório para a mídia. A novela deve deixar de ser a única forma de entretenimento. Custa caro e é um produto de mídia perverso. É deseducativo.

A impressão que fica é que se prostituir "vale a pena".

Será que vale?

Eduardo Pessoa

1 de mar. de 2011

CBF: futebol emburrece o povo!

Para ele, futebol deixa o povo "desinformado".
Este bagunceiro publica abaixo o teor da argumentação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na 17ª Vara Cível de São Paulo. Nela, a CBF aparece como ré no processo conhecido como a "máfia do Apito".

Entre os argumentos apresentados pela entidade, o de que "o futebol não tem função social relevante".

Para matar a curiosidade dos leitores, deixo abaixo com o texto. Ele foi retirado do blog do Nassif.

Eduardo Pessoa

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Da Folha

Para CBF, futebol serve à "desinformação do povo"
MÁFIA DO APITO
Entidade desdenha de seu esporte em defesa na Justiça
DE SÃO PAULO

Para a CBF, "o futebol não tem interesse social relevante". A entidade que dirige a modalidade no país também acredita que o futebol contribui "para a desinformação do povo, já de si mal aparelhado intelectualmente".

As conclusões acima estão na argumentação que a entidade apresentou à 17ª Vara Cível de São Paulo, para se defender no caso da "Máfia do Apito", no qual é ré.

O juiz José Paulo Camargo Magano, da 17ª Vara Cível de São Paulo, condenou CBF, Edilson Pereira de Carvalho e Nagib Fayad ao pagamento de R$ 160 milhões. Federação Paulista de Futebol, Paulo José Danelon e novamente Fayad foram condenados a pagar outros R$ 20 milhões.

Trata-se de decisão de primeira instância, à qual cabe recurso. CBF e FPF já avisaram que vão recorrer.

As condenações se deram "solidariamente". Na prática, significa que, se um réu não tem condições de pagar, o outro tem que arcar com a multa -isso em caso de condenação, encerradas as possibilidades de recurso.

"O Nagib [Fayad] está em estado de insolvência civil, não tem dinheiro para nada, está respondendo até ações da Receita Federal por sonegação de impostos", disse o advogado de Fayad, Eduardo Silveira Melo Rodrigues.

O juiz Camargo Magano sustenta, em sua sentença, que não se pode atribuir relação entre analfabetismo e paixão pelo esporte. Cita a popularidade do Super Bowl nos EUA e os estádios cheios na Europa para rebater a argumentação da CBF.

Em sua defesa, a confederação alega ainda que uma condenação poderia levar a entidade "à insolvência".

Em 2009, a CBF faturou cerca de R$ 200 milhões só com patrocínios. Declarou ainda lucro de R$ 72 milhões. A tendência é que as cifras cresçam em 2010, pois novos contratos foram fechados.

Para a Justiça, a alegada ameaça de insolvência é "precipitada" e "alarmista".

Outro argumento da CBF é de que não estaria, entre suas finalidades, "organizar campeonatos e jogos de futebol".

A sentença aponta ainda que a CBF agiu "com má-fé". Carlos Eugênio Lopes, advogado da entidade, não foi encontrado para comentar.

Trânsito: desigualdade nas relações


Passarelas da Estrada Parque Taguatinga-Guará (EPTG). Foto: Secretaria de Transporte do GDF.

Poucos espaços sociais refletem de forma tão intensa a desigualdade entre os pares como o trânsito. O episódio de Porto Alegre, em que um motorista atropela em massa ciclistas é um retrato fiel e lamentável do relacionamento no trânsito.

Apesar dos discursos e de legislações voltadas para a inclusão e para a institucionalização da cidadania, no relacionamento dentro do trânsito, as coisas acontecem de forma diferente.

O automóvel, cujo objetivo era locomover de forma rápida e segura pessoas e famílias, se tornou em um impecilho para a mobilidade urbana, além de uma "arma" nas mãos de motoristas imprudentes.

Dados do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (DETRAN-DF), do ano de 2009, mostram que Ceilândia foi a Região Administrativa (RA) com maior número de acidentes envolvendo ciclistas. O Distrito Federal pulou de 723 caso em 2000 - número bastante elevado - para 1078 já no ano de 2007, saltando para mais de 1200 casos em 2009.

O aumento no número de acidente envolvendo ciclistas, pedestres e automóveis está na mudança de foco que o GDF deu, ao longo dos governos, para essa relação.

Os investimentos do DETRAN-DF em campanhas educativas, com teatro infantil nas escolas e propagandas institucionais - Panfletos, Rádio e TV - são insuficientes para a conscientização do motorista, analisando os dados divulgados acima.

As passarelas, espaços de interação entre o pedestre e as avenidas também é pouco valorizado. Além disso, falta uma legislação que vincule a conservação e manutenção das passarelas aos estabelecimentos comerciais adjacentes.

Isso significa que um Supermercado, Shopping ou Loja que construir seu estabelecimento próximo a uma passarela, seria responsável por sua conservação e manutenção.

Quantos clientes esses estabelecimentos perdem por terem passarelas construídas desvinculadas de suas lojas?

Quantos usuários perdem tempo (precioso!) andando metros e mais metros para chegar no ponto de ônibus mais próximo, ou para descer nele e se dirigir ao trabalho?

Pensar em mobilidade urbana, respeito e sobretudo cidadania passa também por um conceito de interação entre os meios. A cidade não "dialoga" sozinha, sem pessoas.

Pensemos nisso...

Eduardo Pessoa

23 de fev. de 2011

Serra e o canto dos ditadores

Serra não engoliu a derrota nas eleições presidenciais. Em pose antirrepublicana, o tucano alfinetou: "Até logo".

Sua última empreitada rumo ao fracasso foi associar o ex-presidente Lula ao ditador líbio Gaddafi.

Em seu Twitter pessoal, José Gaddafi Serra disse que Gaddafi é "amigo do PT e do Lula". O Partido da Imprensa Golpista, o PIG, aliado de Serra, já repercutiu sua fala.

Na página online do jornal "O Globo" é feita a mesma associação entre Lula e Gaddafi.

Pura balela de quem não engoliu a derrota.

Esqueceu-se o Sr. Serra que a Líbia, país que hoje enfrenta uma onda de protestos, quis investir US$ 500 milhões na América do Sul, em especial no Brasil.

Quem se prontificou a receber esses investimentos?

A Agência de Notícias Brasil-Árabe dá uma pista. Confiram abaixo:


Líbia quer investir US$ 500 milhões na América do Sul

E parte disso no Brasil. A informação foi dada pelo vice-primeiro-ministro do país árabe, Imbarek Ashamikh, em reuniões com o governador de São Paulo, José Serra, e com o prefeito Gilberto Kassab.



Alexandre Rocha

São Paulo – O governo da Líbia separou US$ 500 milhões para investir em negócios na América do Sul e quer aplicar parte desses recursos no Brasil. A informação foi dada ontem (16) pelo vice-primeiro-ministro do país árabe, Imbarek Ashamikh, durante encontros, em São Paulo, com o governador do estado, José Serra, e com o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab.

Imbarek, que lidera uma delegação com representantes de diversas áreas do governo líbio, citou principalmente interesse no setor agropecuário. “O Brasil tem uma grande importância [na América do Sul] e a delegação que me acompanha estuda possibilidades de investimentos”, afirmou. “Existe vontade política na Líbia de investir no Brasil”, declarou, acrescentando que a quantia de US$ 500 milhões “é apenas o começo”.

Serra declarou que o estado tem todo o interesse em atrair recursos líbios, pois “há carência de investimento, inclusive no agronegócio”. Ele falou, por exemplo, de oportunidades existentes no ramo sucroalcooleiro e na produção de grãos. “São Paulo tem a maior indústria do Brasil e é o terceiro estado agrícola, sendo que é o de maior produtividade, apesar de ter pouco mais de 2% do território nacional”, destacou o governador.

O secretário do Desenvolvimento e ex-governador, Geraldo Alckmin, falou sobre a Investe São Paulo, agência paulista de promoção de investimentos. “Ela poderá ajudar nesse trabalho”, ressaltou. Alckmin disse que colocará o órgão à disposição dos líbios para auxiliar na identificação de oportunidades e realização de negócios.

O vice-governador, Alberto Goldman, acrescentou que há interesse do Brasil em ampliar as exportações ao país árabe, uma vez que hoje a balança comercial pende para o lado líbio por causa das vendas de petróleo. O secretário da Agricultura, João Sampaio, afirmou que o governo pode apresentar aos líbios empresas que querem ampliar as relações comerciais.

Serra ressaltou que, além da exportação de produtos industriais ou agrícolas, São Paulo pode fornecer serviços para a Líbia, citando como exemplo o trabalho já realizado pela construtora Norberto Odebrecht no país. A empresa está à frente da construção dos dois novos terminais do Aeroporto Internacional de Trípoli e da construção do terceiro anel viário da capital líbia. O presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, participou da reunião no Palácio dos Bandeirantes e hoje o vice-premiê vai conhecer um projeto do grupo no ramo sucroalcooleiro.

Ashamikh acrescentou que seu país quer também atrair investimentos brasileiros. Ele citou como exemplo a exploração de recursos naturais. “A Líbia é um país livre para investimentos. Existem riquezas que ainda não foram exploradas”, afirmou. Entre as oportunidades ele destacou a produção de matérias-primas para cimento e vidro e a extração de minério de ferro. Mais tarde, durante jantar oferecido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, o diretor do Conselho de Investimentos da Líbia, Abdarramhman Algamudi, destacou também projetos nas indústrias de móveis, eletrodomésticos, tecidos, produtos químicos, turismo, além do petróleo.

O vice-premiê afirmou ainda que seu governo quer promover investimentos conjuntos da Líbia e do Brasil em outros países da África e do mundo árabe. “Podemos criar um exemplo econômico a ser seguido”, disse. Além disso, ele disse que gostaria de ver em Trípoli uma feira permanente de produtos brasileiros.

Na prefeitura, Gilberto Kassab disse que é muito importante para o Brasil, e para São Paulo em especial, a aproximação com os países árabes. Nesse sentido, ele disse que vai liderar na próxima semana uma missão paulistana ao Líbano. “Espero fazer em breve algo semelhante em relação à Líbia”, declarou o prefeito, que é descendente de libaneses.

Sul-Sul

O presidente da Câmara Árabe, Salim Taufic Schahin, que acompanhou as reuniões do vice-premiê ao lado do vice-presidente de Relações Internacionais da entidade, Helmi Nasr, lembrou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou como política promover a aproximação entre países em desenvolvimento. “A atitude do presidente Lula, de caminhar cada vez mais junto aos árabes, aos países da África, à cooperação Sul-Sul, tem dado resultados que vão se intensificar no ao longo do tempo”, destacou.

No jantar oferecido pela Câmara ele falou da missão ao Norte da África liderada há pouco mais de duas semanas pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, que teve a Líbia como primeira parada. “O evento, coroado de êxito, reflete a relevância crescente da Líbia para o comércio exterior do Brasil”, disse.

Ele citou também ações já promovidas pela Câmara Árabe como a participação brasileira na Feira Internacional de Trípoli e o apoio a outras delegações líbias que estiveram no Brasil. “Na relação entre Brasil e Líbia temos um campo fértil para evoluir”, afirmou. Schahin colocou a entidade à disposição das autoridades e empresários líbios que tenham interesse em ampliar as relações e os negócios com o Brasil.

O vice-premiê visitou também a Assembléia legislativa, onde foi recebido pelo presidente da Casa, deputado Vaz de Lima (PSDB), e o Hospital Sírio-Libanês, onde conversou com o diretor clínico, Riad Younes, e com a presidente de honra da Associação Beneficente de Senhoras, que administra a instituição, Violeta Jafet.


Eduardo Pessoa

6 de fev. de 2011

Nassif: PSDB, a impossível reconstrução

Reproduzo texto de Luis Nassif, que saiu em seu blog, sobre a reconstrução impossível do PSDB. Para ler o original, basta clicar embaixo, no nome dele. 

Boa leitura!

Eduardo Pessoa
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PSDB, a impossível reconstrução



É curioso o Estadão. Numa matéria atribui a um genérico "brigas" o fator que atrapalha a oposição para traçar uma estratégia para 2014. "Brigas", no caso, é a tentativa de renovação do partido, de livra-lo da herança amarga de José Serra, não os dossiês de Serra contra adversários – como parece ter sido as matérias desengavetadas sobre o cunhado de Geraldo Alckmin.

Na página de opinião, FHC mostra como (não) se fazer oposição.

É um amontoado de críticas pontuais, bordões denotando uma ampla incapacidade de enxergar além do dia seguinte. O pensamento de FHC é binário. Mais ou menos o seguinte:

O papel da oposição é bater sempre.Aqui vai um cardápio de temas para quem quiser bater. E ponto.

Não há ideias estruturantes, conceitos mobilizadores, visões sistêmica do país para os próximos dez ou quinze anos para, a partir daí, definir uma estratégia de (re)construção partidária.

O drama do PSDB – que compromete seu futuro político – é enorme. Tinha uma imagem pública que se esboroou no período FHC-Serra. Essa imagem garantia adesão de segmentos amplos da classe média, um pacto com a mídia e permitia ao partido ser um imã, atraindo boas ideias dos segmentos modernizadores do país. Nem precisava se esforçar.

Grosso modo, no período pré-Internet três grupos participavam da formação da imagem de partidos, personagens, produtos.

No primeiro nível, os formadores de opinião, conjunto restrito de economistas, acadêmicos, jornalistas, empresários, lideranças civis, especialistas setoriais que identificam virtudes ou defeitos e formavam o primeiro e mais consistente julgamento.

No segundo nível, os propagadores de opiniões, influenciados pelo primeiro grupo. Integram esse conjunto colunistas da velha mídia (alguns poucos são do primeiro nível), editores, âncoras de rádio e TV e, num plano mais amplo, a estrutura de opinião de rádios e TVs por todo o país, operando como caixa de ressonância..

No terceiro nível, o eleitor propriamente dito, a maior parte dos quais se escuda em ideias vagas sobre o tema analisado, impressões apenas, formadas a partir de ecos do debate no segundo nível.

Apesar do circuito se mover muito mais por impressões e formação superficial de imagem, se não tiver bem alicerçado no primeiro nível, dança.

A formação de imagem do PSDB

Graças a algumas figuras referenciais e a um conjunto de circunstâncias, no final dos anos 80 o PSDB tinha conseguido criar uma imagem que se consolidou nos anos seguintes.

Essa imagem se deveu a Franco Montoro e Mário Covas, acertando as contas fiscais do Estado; e a Sérgio Motta montando o novo modelo das telecomunicações e a um conjunto de jornalistas que entendeu o papel do partido nos novos tempos. Depois, incorporou os economistas do Cruzado, com toda a dose de fantasia que estimulava a opinião pública.

De um lado, conseguia se desvencilhar da imagem fisiológica do PMDB – consolidada no ato de partilha de cargos no governo Sarney. De outro, sugeria uma postura de centro-esquerda não-dogmática, de partido comprometido ao mesmo tempo com a eficiência e as políticas sociais, distanciando-se do estilo mais radical e aguerrido do PT.

Era o anti-malufismo com quem uma certa esquerda sempre sonhou.

Nos anos 90, havia duas linhas hegemônicas no partido: a de FHC (que torna-se hegemônica apenas com o Real) e a de Mário Covas.

Em 22 de outubro de 1998 tracei as diferenças básicas entre o PSDB de FHC e o de Covas:

«Mais do que um anti-Maluf, Covas é o avesso de FHC.

FHC é homem de grandes voos intelectuais, Covas, um cartesiano, até certo ponto rústico. FHC se inebria com as formulações teóricas, Covas é o cultivador dos valores básicos da gerência. FHC persegue os grandes momentos, Covas se compraz com as cobranças diárias. FHC é o arquiteto, Covas, o engenheiro. FHC é o condutor, Covas, o comandante.

O resultado final é que o Brasil é um quebrado, que FHC explica com justificativas sofisticadíssimas. E São Paulo, um Estado saneado, sem precisar explicar nada.

A fórmula de Covas é tão velha e eficiente quanto a descoberta da gerência. Definiu os valores básicos de um bom gestor: ênfase na gerência e no controle das contas públicas. E coragem de dizer não.»

Infelizmente a morte precoce de Covas acabou desequilibrando as discussões internas e deixando como único referencial a superficialidade de FHC.

O governo FHC teve dois momentos que ajudaram a plantar o ovo da serpente no âmago do PSDB.

Na primeira parte (até a crise de 1998) um deslumbramento acomodado, que o fez desatento para o enorme potencial de transformações do país e ao variado contingente de homens públicos que seu governo atraiu, grupos de especialistas em diversas áreas dispostos a transformar o país.

Deixou passar um enorme contingente de possibilidades de consolidação de um novo modelo, em substituição ao discurso único da estabilização da economia.

O segundo momento foi o da crise do "apagão". Em vez de crescer na adversidade, FHC se encolheu, reduzindo a pó a imagem de que o PSDB seria garantia de boa gestão.

Com sua falta de gana, de vontade transformadora, só tiveram espaço no seu governo pessoas sem a menor vontade de mudar nada – a não ser a própria vida. Abriu mão dos homens da inovação, das tentativas de reforma administrativa, do próprio modelo das telecomunicações, após a morte de Sérgio Motta.

Depois dele, panorama de terra salgada. Não houve renovação política nem intelectual no partido. Instaurou-se uma gerontocracia dominada por FHC e José Serra – graças às suas ligações com o grupo da velha mídia formado no pacto de 2005.

Fecharam os espaços para qualquer espécie de arejamento. Envelheceram as ideias dos cientistas sociais, os intérpretes não conseguiram entender o novo país, as novas mídias. Criou-se uma nova linha de intelectuais de rinha de galo, sem e envergadura da geração anterior, envoltos em um superficialismo guerreiro de envergonhar primeiro anista de política.

A pá de cal foi o governo Serra em São Paulo. Como Ministro da Saúde, Serra preservou espaço dos sanitaristas e conseguiu passar a impressão de reencontro do partido com suas origens.

No governo do Estado, repetiu em tudo o padrão Maluf, na ênfase exclusiva na construção civil, na extraordinária leniência com a especulação imobiliária (enquanto prefeito), na falta de visão de futuro, na truculência, na incapacidade de gestão (nesse ponto conseguiu superar o próprio Maluf) e, na campanha, no endosso a teses medievais.

Agora, tenta-se uma reconstrução impossível.

A perda do bonde

Voltemos aos esforços atuais para construir uma nova imagem. A falta de rumo é ampla e fica nítida no programa gratuito do partido. A "aula" de FHC se limita a tentar reabilitar conceitos dos anos 90, o partido dos gestores, o partidos dos honestos, amplamente superados pelos fatos e pelos tempos.

Analisemos os pontos que poderiam ser âncoras no processo de (re)construção da imagem do partido:

Gestão moderna.

Perdeu o bonde. Após o ajuste fiscal de Covas, havia tentativas de avançar sistemas de gestão em São Paulo, propósitos ousados mas que foram abortados pela morte precoce do governador. No principal reduto tucano, Geraldo Alckmin nunca mostrou propensão à gestão moderna.

A gestão Serra teria sido a grande oportunidade do PSDB mostrar um contraponto que fosse. Mas ainda será considerada uma das mais ineptas da história moderna de São Paulo. Creio que nem o governo Fleury foi tão medíocre e desmobilizador.

Além disso, a expansão da informação está liquidando a blindagem sobre a suposta gestão técnica em São Paulo. O aparelhamento da máquina estadual é amplo e irrestrito. Os esquemas de financiamento de campanha em nada diferem dos demais partidos e do modelo político brasileiro.

Resta a experiência de gestão em Minas. Além de ser, por si, insuficiente para definir um partido, não é mais marca tucana. Eduardo Campos faz o mesmo (ou até mais) em Pernambuco. O governo Dilma será um avanço em cima das bases plantadas pelo modelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de gestão. A bandeira da gestão está sendo transferida irreversivelmente para Dilma.

Grande técnico, a "Dilma" de Aécio, Anastasia representa muito mais o gestor apolítico do que um padrão tucano. Seus avanços estarão contabilizados na cota dos governantes gestores – independentemente da cor partidária -, assim como o do (supervalorizado) Sérgio Cabral, ou de Paulo Hartung.

Mesmo no ambiente dos municípios – onde é mais fácil implantar modelos de gestão – não há a menor criatividade do partido em definir um modo tucano de governar.

Novo padrão de desenvolvimento

Dois valores tendem a ser hegemônicos nos próximos anos: a questão da mobilidade nas grandes metrópoles e a questão ambiental. O chamado desenvolvimento saudável e sustentável tornou-se um desses fatores essenciais.

Qual a marca do PSDB nesses dois campos? Enquanto prefeito, Serra flexibilizou mais o plano diretor de São Paulo do que o próprio Paulo Maluf. Seu herdeiro Gilberto Kassab continua preso aos mesmos padrões de décadas atrás. Não há nenhuma marca tucana em nenhuma dessas frentes.

Visão social.

A bandeira mais relevante da atualidade, que foi entregue de bandeja para Lula.

Nas discussões políticas atuais, uma das maiores bobagens é a história de quem começou o quê? O papel do Estadista não é o de criar projetos ou ideias do nada. Há um estoque de ideias e de potenciais para serem explorados. O papel do político é identificar esses ativos e colocá-los em prática, massificar, dar dimensão.

Esses conhecimentos frequentaram a casa de FHC, através de dona Ruth. Mas faltava o básico: sensibilidade social, identificação com o país e o povo e incapacidade de pensar grande. E, mais que isso, uma base social ao PSDB, quadros nos movimentos populares. Até a identificação com os movimentos de base da Igreja Católica foram para segundo plano no período FHC.

A impossível reconstrução

O que resta para reconstruir o PSDB?

Ouso dizer que será impossível essa reconstrução.

O primeiro ponto é a total carência de novas ideias. A única referência de ideias é FHC, que há muito deixou de tê-las. Não se chegou nem ao básico: uma interpretação das transformações atuais do país, do papel mobilizador das novas mídias etc.

Pior, não há nada no partido que atraia uma nova geração de acadêmicos criativos. A cara do partido é José Serra e aqueles arreganhos fundamentalistas, é o Álvaro Dias que todos conhecem e o Beto Richa, que ainda não se sabe a que veio, Geraldo Alckmin, que apenas tem imagem de bom moço.

Resta a imagem solitária de Aécio Neves, que carrega uma bandeira – da gestão -, a fama de bom articulador político, e só. No restante, ainda é um vazio de ideias e de conceitos.

É pouco pau para montar uma canoa.

A Aécio caberia o papel de aglutinar outras estrelas, aproximar-se de políticos progressistas, atrair os mercadistas.

É desafio considerável que esbarra, numa ponta, no peso da imagem de Serra, o ranço embolorado deixado no partido nas últimas eleições, a certeza de que enquanto tiver fôlego, FHC sempre será um obstáculo a mais, as resistências tanto de setores de centro-esquerda quanto dos mercadistas à herança de Serra.

Na outra ponta o desgaste de brigas intestinas, os tiros pelas costas, o uso da mídia para ataques – como as matérias sobre o cunhado de Alckmin, desengavetada, segundo suspeitas dos alckmistas, pelo pessoal do Serra.

O exercício da futurologia é complexo. Depende muito de intuição, de saber identificar fatores que poderão levar as decisões para um lado ou para o outro.

Por mais que me esforce, não consigo imaginar um PSDB coeso.

O quadro mais provável será o de um período de desgaste e, mais à frente, uma confluência de quadros partindo para a construção de uma nova alternativa de oposição. E conferindo justo descanso a FHC e Serra.

21 de jan. de 2011

Ponte JK e a gestão demotucana


Imagem do desnível na Ponte JK. Site: CorreioWeb
Uma das reclamações dos moradores de São Sebastião, Lago Sul (nas mediações das quadras QI 26/28) e dos condomínios próximos à Ermida Dom Bosco e entorno era a dificuldade de se chegar até esses locais, sem ter que passar, obrigatoriamente, pela Ponte das Garças ou pela Ponte Costa da Silva, que dá acesso ao Pontão do Lago Sul, o "point" dos ricos de Brasília.

O então governador Joaquim Roriz elaborou a proposta de construção de uma ponte que ligaria o Plano Piloto ao Lago Sul, com acesso direto a essas regiões. A Ponte JK - também conhecida como a 3ª ponte - foi concebida pelo arquiteto Alexandre Chan e executado pela Via Engenharia.

Em 15 de Dezembro daquele ano, foi inaugurada a ponte JK, sob diversas polêmicas. Uma delas estava relacionado ao custo orçado para a construção da ponte. Inicialmente avaliada em R$ 40 milhões, ela foi entregue à população com custo final de R$ 160 milhões.

 
Os prêmios e a beleza estética e arquitetônica da ponte trouxeram custos e prejuízo para outras áreas sociais, como saúde e educação.

No Distrito Federal, as duas áreas sofrem anos com o descaso do governo local. Na área da educação, além dos problemas estruturais nas escolas, os professores não sofrem reajuste em seus vencimentos há mais de 10 anos. Na área da saúde, os hospitais públicos estão superlotados, falta médicos e medicamentos, além de estrutura adequada para o atendimento.

Em tempo: Agnelo Queiroz montou uma Comissão para avaliar a crise na Saúde do DF, herança "maldita" dos governos anteriores. A comissão já visitou os Hospitais do Gama, Planaltina e o Hospital Universitário de Brasília - HUB, da UnB.

O retrato da negligência demotucana no Distrito Federal não tardaria a aparecer. Depois de 15 anos sob governos de Joaquim Roriz e três anos sob a gestão Arruda (então no DEM), as falhas estruturais, decorrentes de esquemas pomposos de superfaturamento e corrupção, dariam os seus resultados.

Ontem (20/01), por volta de 12h30, a ponte Juscelino Kubitschek, foi interditada. A interdição da ponte ocorreu após um desnível em uma das fendas da ponte. A dilatação, constatada pelo Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e engenheiros da Universidade de Brasília (UnB) é entre 3 e 4 centímetros de largura.

Veja abaixo a foto lateral, mostrando o desnível da Ponte JK. A foto foi retirada do site do jornal O Globo, que aliás não dedicou uma palavra sobre Roriz e Arruda (mas faz um gancho mirabolante com o presidente Lula):

Imagem lateral do desnível na Ponte JK. Site: O Globo.

Desde 2002, ano em que a Ponte JK, cartão-postal da cidade, foi inaugurda, não houve nenhuma manutenção corretiva e/ou preventiva na ponte. Na página da Administração do Lago Sul na internet, existem elogios e mais elogios à ponte.

O link pode ser acessado clicando aqui. Abaixo, um trecho sobre o material utilizado na construção da ponte:

Para levantar a estrutura muito esforço foi exigido dos mais de mil operários contratados. Não é para menos. Foram utilizados um volume de concreto de 38,9 mil m3, junto a 17 mil toneladas de aço distribuídos em 1.200m de extensão e 24m de largura. Para se ter uma idéia de sua magnitude, a Torre Eiffel, em Paris, possui apenas 12 mil toneladas de aço. A estrutura abrange, ainda, três faixas de rolamento construídas em cada sentido da via; faixa lateral para ciclovia e passeio; e os três grandes arcos monumentais de quase 40m de altura postos entre vãos de 240m cada.

 Na página local da Administração, aparecem também trechos citando os prêmios ganhos pelo arquiteto Alexandre Chan, com o projeto da Ponte JK:

Seu projeto rendeu ao arquiteto Alexandre Chan a medalha Gustav Lindenthal durante a 20ª Conferência Internacional sobre Pontes, na cidade de Pittsburgh (EUA). A partir daí, entre as obras finalizadas em 2002, a Ponte JK foi vista internacionalmente como a ponte de maior valor estético e ambiental do mundo.

Vale lembrar que restam debaixo da Ponte JK restos de concreto e areia, que não foram utilizados ou reaproveitados em sua construção. Professores e geólogos da UnB avaliaram, quatro anos depois da construção, o estado de conservação do Lago Paranoá, em especial a região próxima à ponte. E avaliaram negativamente: a área próxima da ponte está poluída, com grande incidência de metais pesados e outros objetos, remanescentes da construção.

A Ponte JK - assim como o Rodoanel em São Paulo - é o exemplo de como a gestão demotucana no Distrito Federal investiu maciçamente em obras faraônicas, causando, por outro lado, crises em outros setores, que agora Agnelo Queiroz e sua equipe de secretários tenta reverter.

Por parte da mídia local, se faz muito alarde em torno da interdição da ponte, mas não se vê e ouve uma palavra sequer sobre o esquema de corrupção que até hoje envolve a construção da "mais bela ponte do mundo".

O Tribunal de Contas do Distrito Federal já pediu a devolução de R$ 26 milhões aos cofres do Governo do Distrito Federal. Está na hora de Agnelo Queiroz solicitar aos ex-governadores Roriz, Arruda e Rosso esclarecimentos sobre a construção da ponte. E a devolução do dinheiro.

Se não fizer, corre o risco da ponte e da imprensa local (afinada com Roriz e Co.), cair em cima dele.

Eduardo Pessoa