8 de mai. de 2010

PNBL e a distorção da mídia

Goste, ame ou odeie. Cada um reage de uma forma quando se fala de mídias sociais. Com o avanço das tecnologias e do acesso à internet, as mídias sociais ganharam espaço de destaque no mundo virtual.

Os números falam por si só.

O Twitter, microblog com mensagens de 140 caracteres, atingiu a marca de 32 milhões de usuários, superando o jornal New York Times, em número de cadastrados. A rede de relacionamentos Facebook, por sua vez, já possui 400 milhões de usuários. Se fosse um país seria maior que EUA, Rússia e China. Já o Youtube tem mais de 20 horas vídeos uploadados (carregados em seu servidor) por minuto.

As redes sociais fazem parte de um universo de mais de 500 milhões de usuários no mundo, sendo mais de 60 milhões somente no Brasil, segundo pesquisa da Ibope/Nielsen. Além disso, o internauta brasileiro é o que fica mais tempo na internet: 48h26m, superando os EUA - 42h19m.

Pesquisa do TIC Domicílios do ano de 2007, conduzida pelo Núcleo de Integração e Coordenação (NIC.br) mostra que 49% dos usuários acessam o conteúdo da internet através de Lan Houses, contra 40% das conexões residenciais e somente 15% em escolas.

O Governo Federal, através do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, (IPEA) entendeu o recado. Compreendeu a importância das redes sociais e do acesso à internet para a construção de novas possibilidades cognitivas e também de acesso à informação. No último dia 05, foi anunciado o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). O objetivo do PNBL é levar internet de alta velocidade a preços acessíveis para todas as regiões brasileiras. O governo quer atingir 40 milhões de domicílios até 2014 e levar a banda larga para regiões como Nordeste e Norte. Essas regiões possuem infra-estrutura adequada, mas carece de investimentos de empresas privadas, sobretudo das "teles".

Monopólio não!


Sobre o PNBL, alguns veículos de comunicação registraram seu desagrado com a proposta apresentada pelo governo. A principal reclamação vem das "teles". Empresas como OI, TIM, Claro e BrT se sentem "lesadas" por não terem sido convocadas a participar do debate.

O que a mídia não diz - por simples esquecimento ou omissão voluntária - é que o programa contempla sim empresas privadas. De fato, a proposta apresentada também quer chegar ao usuário final, a preço acessíveis, entre R$ 25,00 e R$ 35.,00. Esse acesso, chamado de "última milha", será feito inicialmente pelas empresas privadas e o governo vai interferir somente quando não houver concorrência ou oferta do serviço. O que não vai acontecer é o serviço ser oferecido somente por meia-dúzia de empresas, como querem as "teles".

O Lobby do conglomerado telefônico é grande. O Ministro das Comunicações, Hélio Costa, se reuniu com presidentes da Telefónica, Embratel, OI, Tim e Claro. Ao final da reunião, o ministro disse que “é absolutamente impossível enfrentar esse grande desafio [a universalização da banda larga]. Se tem um grupo que vai fazer um projeto sem a presença dos empresários, eu prefiro fazer o meu separado”. (UMES.org.br)

O deputado federal Luiz Alberto (PT-BA) diz que não só no Brasil, mas nos EUA - que também tem projeto de democratização da banda larga - o governo sofre pressão de grandes conglomerados privados. “O próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está enfrentando grandes grupos econômicos para ampliar o acesso a banda larga em seu país”, disse o deputado.

Cara de pau


O desespero da grande mídia e dos empresários é grande. Eles usam todas as armas possíveis para "deslegimitar" o projeto, que será gerenciado pela Telebrás. "O governo vai ressuscitar a antiga estatal", é o argumento dos porta-vozes das "teles". Cabe fazer alguns esclarecimentos.

1) O governo não vai "ressuscitar" a Telebrás. Ela já existe. A empresa, vinculada ao Ministério das Comunicações, tem sede em Brasília (Asa Norte) e conta com uma equipe de 60 funcionários ativos. Os antigos funcionários  foram remanejados, ainda nos anos 90, para a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL). O quadro gerencial da empresa e os telefones de contato estão disponíveis na internet, para quem quiser ver - inclusive os "colaboradores" da grande mídia. Além disso, a Telebrás vai levar a banda larga onde não houver concorrência e/ou interesse da iniciativa privada na oferta do serviço no varejo.

2) O Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditel-Brasil) emitiu uma nota dizendo que é importante preservar o "bom ambiente de negócios construído nesse país desde a privatização". Bom ambiente de negócios? Para quem, cara pálida?

E não pára por aí.

O site Brasil de Verdade, vinculado ao PSDB, diz que a deficiência do serviço de banda larga no Brasil se deve "às dimensões do Brasil e à baixa renda de parte da população”. Falso. O Canadá, que é do tamanho do Brasil, tem mais de 30% dos domicílios com internet banda larga. Os EUA, com território ainda maior que o nosso, tem 26,7% das casas conectadas; Austrália? Próximo dos 25%. E o Brasil? Somente 5,6% (clique aqui). O gráfico está disponível na site do IPEA (página 19).

O governo do PSDB e do PFL (atual DEM) privatizou tudo a preço de banana, com a promessa de universalização, mas o modelo gerado foi na verdade de exclusão digital”, disse o deputado Luiz Alberto (PT-BA). De fato, o modelo excludente de banda larga e o serviço de baixa qualidade oferecido pelas "teles" dão seus resultados.

Basta acessar o site do PROCON-SP e ver o gráfico com o ranking das empresas mais reclamadas em 2009 (clique aqui). Está lá: Telefônica (1º); Tim Celular (5º), Claro (6º) e Embratel (10º). De 500 mil reclamações feitas, mais de 40 mil se transformaram em queixas fundamentadas. Não estamos falando de 40 ligações. São 40 mil reclamações fundamentadas.

O site Brasil de Verdade, porém, diz que “A Telebrás pode parecer competitiva num primeiro momento, mas passará a competir com as operadoras privadas pelo serviço de internet, num mercado onde a iniciativa privada mostrou-se altamente eficiente”.

Parece piada pronta, mas não é. É a cara de pau daqueles que não querem o desenvolvimento nacional. O "The National Broadband Plan" (Plano Nacional de Banda Larga, em inglês) do governo norte-americano, prevê em suas metas, que "Os EUA devem liderar o mundo em inovações móveis, com uma rede sem fio mais rápida e mais extensa do qualquer outra nação".

Porque o Brasil não faz o mesmo? O governo está propondo o primeiro passo, mas as "teles" não querem: o apetite delas é muito grande (clique aqui). Até quando o povo brasileiro continuará "faminto" de conhecimento e tecnologia?

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