17 de ago. de 2010

Porque não votar na mídia

No curso de Jornalismo, os alunos estudam Teorias da Comunicação – TECOM. Elas existem para tentar explicar a relação entre sociedade e mass media. Essa relação inclui comportamento, consumo e influência cultural. Para muitos, a TECOM é um elemento importante para admissão em empresas e aprovação em concursos públicos Brasil afora. Para a relação histórica de forças sociais, as teorias muito falam e pouco nos explicam.

No Brasil, país de dimensões continentais, a mídia tem exercido o papel de unificar etnias e línguas física e geograficamente distantes, em uma única imagem e língua. Através dela, seria possível enxergar rincões distantes de um Brasil que muitos desconhecem.

Com o surgimento, em âmbito acadêmico, de alguns intelectuais latino-americanos, foi possível ter outro viés da dicotomia mídia x sociedade. Um desses estudiosos é Martin-Barbero, espanhol radicado na Colômbia.

Ele analisa a forma como os espectadores, ouvintes e telespectadores do continente sul-americano são influenciados pela linguagem e comportamento dos personagens criados pelos Meios de Comunicação. A análise dele se restringe ao que acontece na Colômbia. Ele também analisa como os MCs influenciam no consumo dessas pessoas. Eles são vistos, pelos donos dos meios de comunicação como consumidores; pouco como produtores de informação.

No Brasil, o jornalista Perseu Abramo, com seu ensaio “Padrões de Manipulação na Grande Imprensa”, percebeu também a necessidade de se discutir a mídia por outro viés. Para Abramo, a mídia faz uso de outdoors, palanques, alto-falantes, bandeiras e carros-de-som, exatamente como os partidos políticos. A mídia capta votos, convence os encabulados e encanta os desencantados, exatamente como os partidos políticos.

Ora, se a mídia tem atuação de partido político e faz “alianças”, qual o tratamento deve ser dado a esse conglomerado? Abramo defende a tese de partido político para a mídia. E é isso que ela faz: política partidária.

A mídia deixou de ser espaço de atuação dos conservadores para ser a voz dos conservadores. Deixou de ser espaço para debates políticos, para ser ela própria a política. A mídia deixou de ser porta-voz da oposição, para se assumir como partido de oposição. Nas palavras de Paulo Henrique Amorim, “a política se trava no PIG*”. A mídia deixou de ser espelho da realidade, para criar sua própria realidade. Um mundo paralelo ao real.

Os eleitores têm motivos para votar em Dilma, Serra, Marina ou Plínio. Também têm motivos para anularem o voto. Algumas pessoas não gostam de José Sarney; outras não gostam de Roberto Jefferson. Todos eles foram eleitos nas urnas, com prerrogativas para exercerem seu mandato.

E a mídia, esse partido sem registro no TSE? E a mídia, esse partido que arrecada muito dinheiro sob as barbas das leis e da Constituição? E a mídia, esse partido que utiliza verba pública para difamar o governo? E a mídia, esse partido político que faz oposição ao desenvolvimento econômico? E a mídia, esse partido que está acima da Lei Ficha Limpa?

Tem quem vote ou não vote em Dilma, Serra, Marina ou Plínio. Todos eles são elegíveis. Uma coisa é certa: os representantes do partido midiático, Clóvis Rossi, Diogo Mainardi, Ali Kamel e o casal Bonner não. são elegíveis. Neles, ninguém votou. Em 2010 também não vão votar. 


*PiG = Partido da Imprensa Golpista. Termo popularizado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, em 2007.

Eduardo Pessoa

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