Na infância, meus pais ensinaram o princípio básico para todo e qualquer convite feito a uma pessoa: cabe ao convidado decidir se pode/quer ir ao evento ou não.
É falta de educação e bom senso obrigar a pessoa a aceitar o convite. Convite é uma "possibilidade" de participação, cuja decisão será do convidado. Ele vai conforme sua disponibilidade de tempo e se não há nada mais prioritário a ser resolvido.
Hoje pela manhã saiu matéria no CorreioWeb mostrando algo parecido com um convite A chamada é sugestiva: "Dilma recusa convite de Álvaro Dias para prestar depoimento na CCJ".
Manchete do Correio Web de 20/09: o convite da serpente. |
Ora, no estado de Direito que se vive no Brasil, prestar depoimento em uma Comissão fixa do Senado ou uma Comissão Parlamentar de Inquérito, a famosa CPI, não é um convite. É uma intimação! E intimação tem procedimentos para que o Judiciário ou o Congresso, usando do seu poder de juíz, pode utilizar.
E é isso que a oposição quer. O "convite" de Álvaro Dias, senador pelo PSDB do Paraná, tem um objetivo claro: ampliar a repercussão das matérias produzidas pelos meios de comunicação nas últimas semanas, para desestabilizar a candidatura de Dilma Rousseff.
O último tracking IG/Vox Populi deu a candidata do Partido dos Trabalhadores com 53% e José Serra, o candidato do PSDB com 23% das intenções de voto. Matematicamente, Dilma estaria eleita ainda no primeiro turno.
A campanha de José Serra entra em desespero a cada porcentagem de aumento da adversária nas pesquisas. Para reverter a situação, o recurso utilizado já é conhecido da população: chantagem.
Para que a chantagem tenha o efeito negativo desejado, vale tudo. Tudo mesmo! Vale inclusive usar como fonte um "consultor" - Rubnei Quicoli - que acabou de sair da prisão, por interceptação de mercadorias e falsidade ideológica.
Para a mídia corporativa, não importam os antecedentes de sua fonte, mas sim como as informações ou "achismos" contribuem para inflar seu candidato: José Serra. E derrubar Dilma Rousseff.
A matéria da revista Carta Capital sobre o envolvimento da filha de José Serra, Verônica Serra, com a quebra do sigilo de 60 milhões de brasileiros não foi repercutida na mídia. Eliane Catanhêde - aquela da massa cheirosa, lembra? -, para defender os seus, disse que a revista "não tem credibilidade" para fazer as denúncias.
Como não tem credibilidade? O diretor de Carta é Mino Carta, que já trabalhou na revista Veja - quando ainda fazia jornalismo de qualidade - um dos criadores da revista IstoÉ, Quatro Rodas e da própria Carta Capital, onde atualmente é Diretor de Redação.
A matéria, por sua vez, foi escrita pelo jornalista Leandro Fortes. Não é um jornalista qualquer. O jornalista, de origem baiana, está em Brasília desde 1990 e já atuou no Correio Braziliense e nas sucursais do Estadão, Zero Hora, Jornal do Brasil, O Globo, revista Época e TV Globo.
A bagagem dos dois jornalistas - Mino e Fortes - garante um mínímo de credibilidade ao texto jornalístico, desqualificado por Catanhêde. O silêncio da mídia é justificável: repercutir matérias feitas por jornais "do governo" acusando Serra é prejudicial para sua (combalida) candidatura.
O silêncio dos grandes veículos também aparece quando Serra anuncia - pasmem - que o salário mínimo vai para R$ 600,00 - se eleito - e que vai dar ajuste aos aposentados de 10%. A princípio não há nada de errado, se pesasse o fato de Serra ser entusiasta das privatizações e do arrocho fiscal e salarial.
Seu sonho é dar prosseguimento às políticas de privatizações e arrocho fiscal iniciadas no governo Fernando Henrique Cardoso. Ele não pode assumir publicamente que quer privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e claro, a Petrobrás. A mídia, que o apoia, também não pode divulgar essas informações.
Poder até pode, mas preferiu outro papel: a oposição. A mídia não é só porta-voz da oposição, mas assumiu ela mesma a oposição político-partidária, prerrogativa de partidos como PSDB, DEM, PPS, PTB e outros.
Erenice Guerra, ex-ministra-chefe da Casa Civil, foi uma dos alvos da mídia, para enfraquecer a candidatura de Dilma. O caso merece o rigor nas investigações necessário para qualquer caso de uso político da máquina pública.
Mas o que a mídia quer é outra coisa: associar o esquema de Erenice Guerra e de seus familiares com Dilma. E a partir disso, colocar José Dirceu, operação Lunus de 2006 e assim por diante. Transformar esse confuso caldeirão de informações desencontradas em álibi para levar as eleições para o 2º turno.
Mais do que veículos jornalísticos: uma fábrica de dossiês. Um partido de oposição, já que a oposição utiliza a mídia para reverberar seu preconceito. Onde se encontra o candidato do PSDB, José Serra? A disputa eleitoral agora está entre Dilma Rousseff x Mídia corporativa.
Nas palavras do jornalista Paulo Henrique Amorim: (leia aqui) "Serra foi atropelado pela própria insignificância".
Até o dia 03 de Outubro, esperem tudo das eleições. Da mídia, esperem panfletagem e não jornalismo.
Eduardo Pessoa
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