18 de set. de 2010

Onde você guarda o seu Brasil?

A campanha eleitoral caminha para sua reta final. 

Dia 03 de Outubro o povo poderá decidir nas urnas duas vertentes que aparecem com nitidez: a continuidade do governo Lula, representado pela candidata Dilma Rousseff  (PT) ou a retomada do neoliberalismo, representado pelo candidato José Serra (PSDB).

Salta aos olhos, desde a redemocratização, a tecnologia empregada nas campanhas políticas  nos meios de comunicação. 

As imagens dos candidatos são nítidas e com a tecnologia HD - High Definition, alta definição - dos televisores atualmente disponíveis no mercado, a resolução das imagens é um elemento agregador de uma figura política.

As campanhas trabalham com valores que estão enraizados em nossa cultura popular. Os anos de colonização, de escravidão e de submissão aos Estados Unidos e Europa levaram o brasileiros a assimilarem conceitos genéricos que merecem atenção nesse momento. 

Dois deles chamam a atenção deste ordinário blogueiro: "educação de qualidade" e "homem de bem".

Nas sociedades contemporâneas, surgidas com a Revolução Industrial e aprofundadas com a globalização econômica,  os bons costumes nada mais são do que condutas e comportamentos do indivíduo em determinado contexto histórico e social. 

A conduta de um indivíduo pode mudar com a evolução da sociedade em que ele vive. 

O "homem de bem", conceito vivo no Brasil, representa aquele indivíduo que de uma forma ou de outra não transgride formalmente as estruturas estabelecidas. 

O conceito é amplo e genérico, pois para saber se alguém é do bem ou do mal, é importante ter um elemento, grupo ou situação concreta como parâmetro. Bem ou mal se comparado com quê? E com quem?

Um homem de bem, figura pública e notória, que aparece fazendo declarações públicas para sua esposa e seus filhos, e dias depois, é flagrado com uma amante, pode ser um homem de bem?

Um homem de bem, figura pública e notória, que esquarteja uma mulher, independente dos motivos que levaram a esse ato, pode ser um homem de bem?

Este blogueiro tem uma resposta: depende. Depende do referencial, depende do contexto, enfim, há uma série concatenada de fatos que precisam ser analiados de forma conjunta, para se obter a resposta. Ou consideração final, como preferir.

Na mesma linha o conceito de "educação de qualidade" aparece com veemência nas campanhas políticas, de todos os níveis (de Presidente a Deputado). Mas afinal, o que uma "educação de qualidade?"

Para tanto é necessário também estabelecer um parâmetro para fazer a comparação. De qualidade em relação a quê e a quem. 

Se se compara nossa estrutura educacional ao de países como Estados Unidos e Europa, é provável que a nossa educação esteja defasada em alguns níveis. 

Da mesma forma, comparando nossa educação dos anos 50 a de hoje, também encontraremos diferenças. 

E também é possível ter opiniões divididas quando se compara os dados da Educação do governo Sarney, Collor, FHC e Lula. O debate entre os candidatos sobre o tema acontece a nível superficial.

A superficialidade está nos valores impregnados no discurso, nas imagens e nas políticas públicas para o setor, que, embora os avanços feitos, precisa avançar e aprofundar mais o debate.

O Brasil não precisa de homens de bem; precisa de homens e mulheres pensantes. Pessoas conscientes de seu potencial e de que sua capacidade individual pode beneficiar empresas, governo e o país. 

O Brasil não precisa de "educação de qualidade"; precisa resgatar não somente a autoestima do professor, do docente universitário, mas resgatar a vontade do aluno pelo conhecimento.

Não basta ter uma estrutura com estética vanguarda que será chamada de "escola": é preciso que as idéias também circulem e o conhecimento seja interiorizado pelo indivíduo e exteriorizado em suas obras. 

Uma das formas de exteriorização das obras de um ser pensante e atuante é a arte. A educação brasileira precisa resgatar a parceria entre conhecimento literário e desenho. Estimular os alunos ao desenho, aliado ao texto.

A educação necessita ser livre de idéias e livres das amarras da sociedade e do Estado. Isso também não significa que a educação deva ser jogada aos tubarões da iniciativa privada, mas deve ser livre para circular: idéias e pessoas.

É importante que alunos e professores tenham autonomia para experimentar, realizar projetos, apresentar propostas e soluções em Português, Matemática, Física, Quimica, Comunicação, Artes, Política, entre outros.

O ensino religioso pode ser buscado por qualquer indivíduo no seio da sociedade. Participando do princípio de que a escola é um espaço público para construção do conhecimento, a religião pode ser construída dentro da escola, mas a nível intelectual, histórico, político. 

A doutrina pode ser exercida e almejada fora dos muros da escola. Portanto, o ensino religioso pode ser excluído da lista de atividades escolares, ou ser proposta como "optativa".

As pessoas têm direito a terem religião, serem crentes, agnóticos, ateus e laicos, mas não de serem leigos.

O avanço das políticas públicas do próximo governo vem acompanhado da descontrução do discurso impregnado de que os "homens de bem" podem governar e oferecer "educação e saúde de qualidade".

Romper com o discurso significa avançar filosoficamente e sedimentar uma sociedade mais justa, livre e equilibrada. 

Infelizmente, os políticos brasileiros não atingiram o nível intelectual de pensar o Brasil de forma republicana, isto é, de contribuir para a evolução do país e a eficiência do Estado, independente de suas doutrinas políticas. 

O que se vê são idéias e valores reforçados em discursos. Alguns inovadores; outros retrógrados. Embora as falhas ainda presentes em nossa estrutura social, os avanços feitos durante o governo Lula são ovacionados pelo povo e pela mídia internacional.

Aperfeiçoar e aprofundar esses avanços é uma forma de romper com o abismo que separa o Brasil, representado por Dilma Rousseff, que deseja prosseguir no avanço das idéias e acolhe propostas para aprofundá-las, do Brasil de Serra, cujo discurso progressista esfarela quando defende o desmantelamento do Estado para favorecer oligarquias, corporações e empresas sem escrúpulos.

No dia 03 de Outubro, o Brasil tem encontro marcado com o passado e o futuro; a possibilidade de avanço e o retrocesso concreto; a ruptura do preconceito étnico e sexual e o avanço do preconceito; entre reconhecer a ditadura militar como canalha e assassina ou a ditabranda.

Para concluir, uma pergunta: onde você guarda o seu Brasil?

Pense nisso!

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