14 de out. de 2010

Serra, mídia e as mulheres: hipocrisia!

As críticas dirigidas pelo PSDB à candidata Dilma Rousseff, representante dos oito anos de Governo Lula, são contraditórias quando se tratam do relacionamento com a imprensa.

A alegação de que Lula/Dilma e o PT perseguem jornalista e que veículos contrários ao governo são censurados, cai por terra quando os leitores se deparam com episódios que mostram o contrário.

Serra, candidato da oposição, se mostra visivelmente incomodado, quando jornalistas fazem perguntas contundentes. Acostumado ao prazer e ao cavalheirismo do "perdoe-me, candidato" de seus correligionários, Serra mostra-se embaraçado e raivoso quando diante de jornalista com "J" maiúsculo.

Nem mesmo a Miriam Leitão, a quem Paulo Henrique Amorim deu a alcunha de "urubóloga" escapou da ira de Serra. Percebe-se, além disso, uma certa má vontade e agressão gratuita quando se trata de mulheres, profissionais do jornalismo. Elas, ao contrário dos homens, recebem com maior frequência as palavras e atitude nada delicadas do tucano.

Com a delicadeza de um elefante e o cavalheirismo de um capitão do mato, Serra liga para as redações de jornais e revistas, pedindo a cabeça dos jornalistas "petistas" que escrevem alguma vírgula contra ele e suas propostas.

A propósito: quais são as propostas para um governo de Serra mesmo?

Ele não tem proposta de governo. Foi entregue por sua coligação ao TSE somente trechos de um discurso de Serra, com temas amplos e genéricos. Drª Cureau, procuradora eleitoral, bradou nos jornais contra isso?

Não.

Mas o PSDB, com a voracidade de uma hiena, disse que Dilma tirou temas do seu programa de governo. Ora, como ela tirou se o tema sequer existia em sua proposta?

Sim, ela apresentou proposta, mas isso a mídia não contou. E nem quer contar.


Jornalistas demitidas
Quando não consegue demitir, ele tenta formas de afastar a profissional. E quando essa tentativa falha, ele confisca o áudio das entrevistas. Assim fez com a jornalista Márcia Peltier, da CNT.

Depois dela, Maria Rita Kehl, psicanalista que escrevia no Estadão, foi demitida do veículo por conta do seu artigo "Dois pesos...", uma análise política, que reconhece os avanços promovidos pelas políticas de transferência de renda do governo Lula.

O jornal, em atitude dúbia, demitiu a colunista, para em seguida chamá-la de volta, mas amordaçando suas palavras. Podando suas considerações. Privando de escrever sobre política, assunto para o qual foi convocada. Ela contou para o blog Viomundo, do Azenha, os bastidores de sua demissão.

A próxima vítima pode ser a jornalista Maria Inês Nassif, colunista do jornal Valor Econômico. O Valor é do PIG: compactua com Serra. Mas por ter um viés democrático, abriu espaço para Inês Nassif fazer suas análises políticas, na opinião deste blogueiro, as melhores da atualidade.

Mas ela fala umas "verdades" que incomodam o Serra, PIG, DEM e PSDB. E vai pedir a cabeça dela para o diretor do jornal. Justo o jornal que está "censurado" há meses.

Não é contraditório?

A imprensa que se diz censurada, amordaçada, paladina da liberdade de expressão, utiliza de expedientes nada democráticos para calar colunistas, jornalistas e outros "istas" que se puserem contra Serra. Que analisarem seu histórico político. Enfim, contra aqueles que fizerem bom jornalismo.

O que Serra gosta é de jornalistas que não o incomodem. Reflexo não só do fim do diploma, de autoria de Gilmar Mendes, mas da cultura da profissão.

"Fazemos um tipo de jornalismo que não incomoda ninguém", já disse o ilustre professor deste blogueiro, Sr. Lunde Braghini, que ministra as disciplinas de Jornalismo Especializado.


Que falem as mulheres
Quando confrontado com Dilma, Serra se espanta e foge. Brada na imprensa que ela está "agressiva"; quando ela fala pausadamente, foi "treinada".

A lógica machista de Serra se resume no seu relacionamento com a família. Em nome do poder para o qual concorre, Serra jogou na fogueira das vaidades sua filha, Verônica Serra, acusada da quebra de sigilo de mais de 60 milhões de brasileiros - silêncio total da mídia - e sua esposa, Mônica Serra.

Incapaz de se assumir retrógrado em seu pensamento, o candidato tucano precisa falar pela boca de terceiros aquilo que lhe falta coragem e convicção para dizer.

Talvez seja o caso de Maria Rita Kehl nos contemplar, ainda que pela blogosfera, com um artigo explicando as razões médico-psiquiátricas para a fúria machista de Serra. Talvez seja o caso de Inês Nassif nos saborear com uma análise político-antropológica da fúria machista de Serra.

E talvez seja a hora de Dilma dizer que Serra não é a favor da liberdade de imprensa. Ele quer jornalistas que manipulem a informação a seu bel prazer, e agride aquelas que falam as verdades sobre sua personalidade conturbada e de suas gestões marcadas por corrupção e obscurantismo.

Além disso, a candidata do PT pode destrinchar, em um próximo debate ou até mesmo no horário eleitoral, que Serra coloca sua mulher para falar mal das mulheres. Quem é a favor da vida, não assina normas técnicas dando passo a passo de como abortar não é mesmo, Serra?

Dilma pode ainda explorar a capa da revista Veja, de 2007, que criminaliza a candidata por seu entendimento sobre o aborto: questão de saúde pública.

O que a mídia não diz é que a mesma Veja, em 1997 (foto acima), publicou matéria tratando do mesmo assunto. Na capa, junto com mulheres comuns, estão Cissa Guimarães, Hebe Camargo e Elba Ramalho. Nesse ano, Serrá era Ministro da Saúde de FHC.

O que ele fará: vai jogar as celebridades na cadeia por três anos?  

Sem apelações e baixaria, Dilma pode perfeitamente desmascarar a hipocrisia e as mil facetas de Serra, cujo desejo pelo poder não encontra limites.

Além de privatizar o país e abortar as conquistas sociais e econômicas do governo Lula, um governo Serra seria também o retorno ao obscurantismo religioso, perseguição e repressão policial, além de machismo e racismo sem fim.

Machismo com patrocínio e complacência de Maitê Proença, Weslian Roriz e Mônica Serra.

Eduardo Pessoa

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