27 de set. de 2010

A cor do debate: cadê?

O debate de ontem, na Rede Record, aponta para uma reta final emocionante nas eleições de 2010.

O resultado de Dilma (PT) e Serra (PSDB) mostra empate técnico para os dois candidatos. Ambos jogaram o "feijão com arroz" no debate de ontem. Para Dilma, "o empate é um bom resultado", já diria Zagallo; para Serra, não. 

A estrela da noite foi Marina Silva, desmascarada por Dilma e Plínio. Este, aliás, desferiu toda a sua artilharia radical sobre os candidatos. Não poupou Serra, quando questionado sobre o tema Educação. 

Os grandes temas foram abordados ontem durante o debate. A candidata do PT se saiu melhor, embora estivesse com uma postura mecanizada e artificial. A impressão que deixou em muitos telespectadores foi essa: ingessada no seu discurso.

Plínio inclusive alfinetou a adversária dizendo que foi "criada" por Lula. A réplica de Dilma foi um primor de bom senso histórico e de clamor pela democracia, elementos fortes da candidata petista.

Diante de tantos temas que interessam aos brasileiros, - Educação, Saúde, Segurança, Emprego - por qual motivo o tema RACISMO ficou de fora do debate? 

Seria um prato cheio para Serra ou Dilma conquistarem ou perderem votos. 

O momento é histórico e oportuno. Ainda mais depois da pesquisa divulgada pelo IBGE, em que o número de negros e pardos já ultrapassa o de brancos.

Apesar da involução econômica, citada na mesma pesquisa, em que negros e pardos ganham 40% menos que brancos, o tema merece atenção.

No debate de ontem, ele ficou sem cor. Entre farpas e acusações, o tema racial não passou perto. Sequer passou longe: indiferença dos postulantes a Presidência.

Dilma não explorou o tema a fundo, provavelmente por conta do Estatuto da Igualdade Racial, aprovado pelo Congresso Nacional. A proposta não foi digerida pelo movimento negro.

Serra não explorou o tema, pois sua postura política e sua gestão no governo de São Paulo evidenciam o preconceito étnico. 

De fato, durante as enchentes que paralisaram a cidade por três meses, os bairros mais pobres, formados por moradores negros (e brancos pobres) foram os mais prejudicados pela chuva. O que Serra fez?

Nada.

O rapper Mano Brown, do grupo Racionais Mc's, já disse: a candidatura do Serra para o Brasil "seria um desastre".

Veja o vídeo:


Vale ressaltar que Mano Brown, assim como muitos brasileiros simpatizantes no governo Lula, não acreditou na sua capacidade de transferir votos para Dilma.

E conseguiu transferir votos, algo impossível e impensável politicamente.

Voltando ao debate...

Marina e Plínio, imersos em utopias e projetos intangíveis, sequer evidenciaram o tema. Perderam uma grande oportunidade de captar votos ou tirar votos de Dilma e Serra.

Marina Silva, que se declara negra, sequer comentou a pesquisa ou fez menção ao assunto. Pelo contrário: usou o espaço do debate para atacar adversários. Se deu mal, pois foi revidada a altura por Dilma e Plínio.

Plínio, cuja lucidez aos 80 anos surpreende os mais jovens, destila o preconceito da esquerda que não aceita os avanços, ainda parcos, da gestão Lula. 

Por qual motivo a candidata Dilma Rousseff, que lutou pela democracia e quase perdeu a vida em nome da liberdade dos brasileiros, não citou a democracia racial que os negros tanto almejam?

Por qual motivo o candidato José Serra, que já foi membro da União Nacional dos Estudantes nos anos 60, não cita os negros que ajudaram a construir o Estado de São Paulo?

Por qual motivo Marina Silva, discípula de Chico Mendes, recusou-se a ficar do lado dos movimentos sociais e das forças políticas que a apoiaram, quando ainda era senadora pelo Acre, e se debruçou, repentinamente, nos braços da direita, esquecendo dos negros que acreditaram em seu discurso?

Por qual motivo Plínio, ícone do socialismo brasileiro, esquece que, no Brasil, a luta de classes também tem como elemento, a luta contra o racismo e o preconceito étnico contra as minorias, incluindo os afro-brasileiros?

Nos oito (8) anos de Governo Lula, os negros adquiriram poder aquisitivo e aos poucos estão se inserindo no mercado interno de massas. Os negros já compram bem duráveis, tem imóvel próprio e realizam sonhos antes inimagináveis.

Essa parcela importante da população, que agora está presente em maior quantidade, não pode ser esquecida. Os negros não estão só na senzala, como conhecíamos nos livros de história: os negros já estão na casa grande também!

Os candidatos têm medo de abordar o tema? Temem que o Brasil se torne uma nação "africana"?  "O Haiti é logo ali", será lema preconceituoso nas campanhas? O debate de ontem foi intenso, vivo, com farpas e acusações. 

Mas faltou a cor dos negros nesse debate. Usando a gíria que o Serra disse ontem, não foi nada "nice".


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