24 de nov. de 2010

Taguatinga Centro: futura limpeza étnica?

Saiu no Coletivo:

Hotéis são interditados em Taguatinga
Operação noturna coordenada pela Seops foi realizada na sexta-feira e no sábado
Redação Jornal Coletivo

Agentes realizaram vistoria em estabelecimentos localizados na cidade, no último fim de semana, com apoio de outros órgãos, Hotéis em Taguatinga foram alvo de uma operação da Secretaria de Ordem Pública e Social do DF (Seops) no último fim de semana. Conforme denúncias feitas ao órgão, hotéis de classe C e D no centro de Taguatinga e na região sul da cidade estariam cometendo diversas irregularidades. Um dos alvos foi o Hotel Vitória (C8). Ele foi interditado totalmente pela Vigilância Sanitária por apresentar sujeiras, mofos e fungos nas paredes, não conter kit útil de higiene nos banheiros (papel higiênico e sabonete descartável), colchões e travesseiros rasgados e sem capas de proteção. Os agentes também flagraram 13 pessoas usando crack nas acomodações do hotel.

Já no Hotel Carioca, localizado na CSA 2, três quartos não estavam em condições adequadas de higiene e foram interditados parcialmente pela Vigilância Sanitária. Além disso, foram apreendidas pela Agência de Fiscalização (Agefis) 50 marmitas impróprias para o consumo. Outro ponto foi o Hotel Central (C10) que tinha alvará de funcionamento ilegível e sem data de validade, além de outras irregularidades. O Real Park Hotel (C10) foi notificado apenas pela Vigilância Sanitária por conter algumas irregularidades, como sujeira na área externa do hotel, banheiros sem lixeiras, lençóis e fronhas sujas.

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O problema da região central de Taguatinga é a falta de políticas públicas para as pessoas se inserirem socialmente e saírem da vida das drogas e da prostituição.

Depois das 22hs, a Praça do Relógio e as avenidas centrais, sentindo Leste-Oeste e vice-versa, ficam tomadas por prostitutas nas ruas.

Trabalhadores, jovens e mulheres se deparam diariamente com as cenas, que já não chocam mais.

Viraram retrato da cidade.

Taguatinga é independente em relação ao Plano Piloto. A arrecadação é maior que a região central de Brasília e tem um comércio diversificado e próspero.

Nenhum governador deu atenção especial a saúde e a inclusão social das mulheres que hoje são prostitutas e dos jovens usuários de drogas.

Não há nenhuma política de restauração dos prédios e de controle da poluição visual e sonora que toma conta em Taguatinga Centro. Pelo contrário: abordagens e apreensões dessa natureza mostram uma coisa: hipocrisia.

Não há denúncia de abordagens nos hotéis do Plano Piloto, onde políticos e empresários inescrupulosos fazem programas com prostitutas "de luxo". Na verdade, o que se quer fazer em Taguatinga é uma "limpeza étnica" da região central, tal qual foi feito pelo Governo de São Paulo.

Lá, os jovens sem amparo e assistência social, transformaram bairros abandonados em grandes "cracolândias". Em Taguatinga, existem pequenos pontos de droga. Minúsculas "cracolândias", ainda insivíveis aos olhos do poder público, mas que podem crescer.

Não é lacrando estabelecimentos ou usando o poder pela força que se resolve o problema da saúde na cidade. É necessário que o governo estabeleça políticas públicas voltadas para a recuperação e inclusão de homens e mulheres, hoje vítimas da prostituição e das drogas, no convívio social.

Também não vale dizer que a cidade está violenta, por conta dos "marginais" que vêm de Ceilândia, Samambaia e Recanto das Emas. Isso é preconceito puro e simples, digno de Mayara Petruso e Janaína Paschoal.

É necessário também criar oportunidades nas regiões administrativas fronteiriças com Taguatinga, para permitir:

1) Oportunidade de crescimento também dessas regiões; e 2) Integração e interligação entre as cidades com Taguatinga.

Agnelo Queiroz, governador eleito do DF, demonstra preocupação com a questão da saúde. Os projetos de reforma já estão pautados no orçamento local e federal. Se mostrou disposto inclusive a assumir, interinamente, a Secretaria de Saúde, para acompanhar de perto o problema. Um sinal de avanço!

Com educação de qualidade, geração de emprego e transformação da cultura dos moradores e habitantes, é possível fazer essas mudanças. São mudanças de longo prazo, perceptíveis em cinco ou dez anos. Mas dar o primeiro passo para a mudança é preciso, embora difícil.

Obviamente, a mudança vai tirar pessoas da "zona de conforto". Exigirá uma mudança de postura de todos.  Os mais ricos vão "chiar", dizer que o "problema não é com eles". Que tem que bater em "vagabundo".

Talvez prefiram abordagens dessa natureza. Não mexe com seus interesses e ainda ganham uma grana com a miséria alheia. Bater e prender ao invés de educar é mais simples. De preferência na calada da noite, claro, para que os excluídos não tenham chance de abrir a boca.

Eduardo Pessoa


Gavetas: 

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